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Cata-Ventos: A beleza dos nomes

Costa Alves - 02/05/2024 - 9:37

Quem pesquisa como se formaram os nomes das nossas terras fica frustrado. Para muitos há mais do que uma hipótese e poucas certificadas por uma explicação documentada acerca do significado que teve originalmente.
Mesmo assim, permitam que passeie por aí brincando com os nomes de algumas aldeias espalhadas pelo concelho de Castelo Branco. Nomes que abrem horizontes de beleza e significações. Começo pelo topónimo desta minha cidade natal. Já sabemos que os enigmas permanecem. Mas gosto de “Castraleuca”, nome que na infância do meu conhecimento era, simplesmente, nome de fábrica que produzia pirolitos - pirolitos que as novas gerações de refrigerantes atiraram para o saco do esquecimento. Ainda me custa que não abram pelo berlinde.
Meto-me pelos caminhos e os nomes brotam dos campos como árvores solitárias. Aqui é “Salgueiro”, mais além “Juncal” e, quase pegado, “Freixial”. Convido-vos a saborear pinturas murais nestas duas aldeias. O projeto chamou-lhes “aldeias artísticas”; tem Vhils e outros muralistas, mas não teve apoio para poder continuar. Mais umas voltas por este rincão de despovoados e chego a “Sobral” e, depois, a “Louriçal”. Todos são “do Campo”. A ruralidade está a secar e não distingo os maciços vegetais que terão inspirado a sua eleição como topónimos. Por ali, rondavam aves de rapina e o “Açor” afixou o seu “Ninho” no cocuruto de altas árvores também acabadas.
Como que em voo de ave, aterro em “Chão da Vã”. Em vão ficou a Vã e não encontro a sua história de pessoa ingloriosa, vazia, oca, frívola, fútil, falsa ou fantástica na beleza do nome deste povoamento em chão de vã glória sem vanglória. Já no “Chão do Galego”, a conversa não tem muitas variantes. Também condenado à solidão, “o Galego” rivaliza com “o Preto” em capacidade de mourejar na busca de pão e de uma malga com qualquer alimento que ajude a sobreviver. Assim se partilharam séculos de vida e de história.
Se houver tempo, e dependendo de como os acasos saírem dos embrulhos da sorte, descobrirei uma “Taberna”, mesmo que “Seca”, à minha espera. Se a sede não sufocar, poderei descobrir, em “Lentiscais”, olivais que produzem uma variedade durázia de azeitonas que alimentava desabastecidos com pele de resistência.
Se ainda tiver fôlego, alcançarei antigos campos abastados de “Cebolais” capazes de socorrer qualquer ensaio gastronómico. Tudo dependerá das “Benquerenças” que alcançarei e que tanto acalentam o ânimo. Pergunto-me: como é que os fundadores desta aldeia se criaram e evoluíram com anseios desta natureza? Terão escapado das malquerenças que dominaram os séculos e declarado, para todo o sempre, quererem viver de outra maneira com as suas benquerenças? Terei tempo para voltar à Malpica de meus pais e avós? Malpica agora violentamente separada do Tejo de seu nome, por injustiça e ignorância institucional.
Partir é um desafio. Vou de S. Vicente da Beira para Almaceda e desvio-me quando deparo com o anúncio de “Partida”. Partida é para florescer e abençoar qualquer chegada. Podemos renascer, multiplicar os sentidos e partir para outros céus.
Os céus de “Camões”. Que posso imaginar, ou supor, ou inventar sobre a origem do nome deste lugar? Encontrarei outros nomes por esse vasto mundo (até e “além da Taprobana”) que o nosso épico eternizou no imaginário português.
Como soletrava o poeta moçambicano José Craveirinha, “Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!/ E outros nomes da minha terra/ Afluem doces e altivos na memória filial/ E na exata pronúncia desnudo-lhes a beleza.” A beleza dos nomes. Seja onde for.
mcosta.alves@gmail.com

 

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